Fui de Americanas: um investidor indeciso e uma empresa em crise
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Resumo
Victor, um investidor novato, enfrenta decisões cruciais ao explorar a trajetória das Lojas Americanas. Influenciado por memórias afetivas e o boom do comércio eletrônico, ele recebe orientação de Ronan e Brenno. O histórico da empresa, incluindo aquisições e o controle pelo Grupo 3G Capital, cria uma narrativa positiva até 2022. Contudo, a reviravolta ocorre com um erro contábil de R$ 20 bilhões em 2023. As ações despencam, a empresa enfrenta desafios financeiros e é processada por superestimar o valor das ações. Victor, diante do dilema, ilustra a volatilidade do mercado e a necessidade de decisões informadas. Este caso avançado oferece uma análise concisa da complexidade do mercado de ações, desafiando estudantes a compreenderem os riscos e recompensas, aplicando conceitos de finanças corporativas e estratégia empresarial.
Palavras-chave: Finanças Corporativas, Análise de Investimentos, Estratégia Empresarial, Fraude Fiscal, Rombo, Ações
Abstract
Inexperienced investor Victor faces critical decisions while delving into the journey of Lojas Americanas. Influenced by sentimental memories and the e-commerce boom, he seeks guidance from Ronan and Brenno. The company's history, including acquisitions and control by the 3G Capital Group, paints a positive picture until 2022. However, a sudden twist unfolds with a R$20 billion accounting error in 2023. Stocks plummet, the company grapples with financial challenges and faces legal action for overestimating stock value. Victor, confronted with a dilemma, exemplifies market volatility and the imperative need for informed decisions. This advanced case provides a concise analysis of stock market intricacies, challenging students to comprehend risks and rewards by applying concepts from corporate finance and business strategy.
Keywords: Corporate Finance, Investment Analysis, Business Strategy, Tax Fraud, Financial Setback, Stocks
Investidor novato: conhecendo a história das Americanas
Victor é um investidor novato que possui dois grandes amigos: Ronan, amigo de infância e funcionário da Americanas, e Brenno, um analista de investimentos que conheceu na universidade. Durante toda a sua vida, Victor se viu frequentando as Lojas Americanas com seus amigos. Por conta dessa memória afetiva e a influência de Ronan, ele pretende investir parte do seu dinheiro nas Lojas Americanas, mas fica receoso por conta de tudo que vinha acontecendo com a empresa nos últimos meses.
Ao pesquisar sobre as Lojas Americanas, Victor descobriu que a empresa foi fundada em 1929, ano da grande depressão, em Niterói no Rio de Janeiro. Os seus fundadores eram americanos que buscavam criar uma loja com preços baixos, grande variedade de produtos e focada no público de baixa renda. Essa ideia tinha dado certo nos Estados Unidos e Europa.
A empresa começou a expandir pelo país quando seus fundadores, movidos pelo sucesso do modelo no exterior, decidiram abrir o capital da empresa para angariar recursos e promover a abertura de novas unidades pelo Brasil. Com o passar do tempo nas operações de capitais, o antigo Banco Garantia, do qual Jorge Paulo Lemann era sócio, tornou-se um grande acionista das Lojas Americanas em 1982 e com isso o Banco passou a controlar a empresa à época.
As Lojas Americanas começaram a crescer, abrindo lojas por todo o Brasil, adquirindo outras empresas como a Blockbuster e a Submarino, e também oferecendo diferentes tipos de serviço para além da tradicional loja de varejo, como a Americanas express, a Americanas.com, a Americanas local, a Americanas digital dentre outras.
Ao descobrir que o Banco Garantia foi vendido para o Credit Suisse First Boston em 1998, Victor percebeu que a carteira de ativos não estava dentro do acordo de venda, tornando então Jorge Paulo Lemann e seus sócios, como proprietários das ações da varejista, eles fundaram o Grupo 3G Capital que administra as Lojas Americanas até hoje com 40% das ações além de outros negócios.
O passado é importante
Após conhecer mais sobre a empresa, Victor foi procurar um investidor de carreira e conheceu Brenno, um investidor muito promissor que fez parte da liga de mercado financeiro, um projeto de extensão que Vitor também participou em sua universidade, e que atualmente atua como consultor financeiro e vinha ganhando muito dinheiro com isso. Victor rapidamente se aproximou de Brenno e logo se tornaram amigos e conversaram sobre investimentos. Brunno inicia explicando a ele o básico de investimento, o que é e como funciona:
1. Ações - Possuindo um pedaço de empresas: Breno explicou que comprar ações significa adquirir uma parte da propriedade de uma empresa. Ele comparou isso a ser um acionista em uma empresa e ter direito a uma parcela dos lucros e voz nas decisões da empresa.
2. Mercado de Ações - Onde os negócios acontecem: Breno informou que as ações são negociadas em bolsas de valores, lugares onde compradores e vendedores se encontram para realizar transações. Ele mencionou as famosas bolsas de valores, como a NYSE e a NASDAQ.
3. Risco e Retorno - O equilíbrio delicado: Breno ressaltou que investir em ações envolve riscos, mas também oferece oportunidades de retorno. Ele comparou a situação a um balanço, onde você precisa equilibrar o risco e o potencial de ganho.
4. Diversificação - Não coloque todos os ovos em uma cesta: Brenno aconselha Vitor a não investir todo o seu dinheiro em uma única ação, mas sim distribuí-lo em diferentes empresas e setores. Ele explicou que isso ajudaria a reduzir o risco geral da carteira de investimentos.
5. Dividendos - Os frutos do investimento: Breno mencionou que algumas empresas pagam dividendos aos portadores de ações da empresa, acionistas, que são uma parte dos lucros distribuídos regularmente em geral. Isso pode ser uma fonte de renda para os investidores.
6. Análise Fundamental - Conheça a empresa: Breno introduziu a ideia de análise fundamental, que envolve avaliar a saúde financeira de uma empresa, incluindo sua receita, lucro e dívida, para tomar decisões de investimento informadas.
7. Análise Técnica - Estudando tendências: Breno mencionou que a análise técnica envolve a análise de gráficos de preços e indicadores para prever movimentos futuros com base em padrões históricos.
8. Relatórios Trimestrais e Anuais: Breno também disse que empresas negociadas divulgam informações financeiras regularmente. Esses relatórios são valiosos para entender o desempenho da empresa, por isso é o Victor Daniel acompanhar suas divulgações
9. Pesquisa de Mercado: E também realizar pesquisa e análise antes de escolher quais ações comprar. Informações sobre a empresa, setor e tendências econômicas podem ser cruciais.
10. Curva S de investimento (Figura 1): se divide em duas curvas de oferta e curva de demanda.
- Curva de Oferta: Essa curva representa a quantidade de um bem ou serviço que os produtores estão dispostos a oferecer no mercado a diferentes preços. Normalmente, a curva de oferta tem uma inclinação positiva, o que significa que os produtores geralmente estão dispostos a oferecer mais unidades de um bem ou serviço quando o preço aumenta.
- Curva de Demanda: Essa curva representa a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos a comprar no mercado a diferentes preços. Geralmente, a curva de demanda tem uma inclinação negativa, o que significa que os consumidores tendem a comprar menos unidades de um bem ou serviço quando o preço aumenta.
Victor escuta a seguinte dica do investidor: para saber se uma empresa é boa para investir, uma das primeiras coisas que ele deve olhar é se o serviço oferecido se enquadra na curva “S” de desempenho e esforço, nessa curva conseguimos ver se o serviço oferecido ainda continua estando em crescimento e sendo absorvido pelo mercado ou se esse serviço estagnou pronto para entrar em declínio sendo menos requisitado pelos compradores, Breno diz que no caso da Americanas seu principal serviço seria o de venda com variedade nos produtos.
O passado dessa empresa também é importante, segundo Brenno. Contudo, para que exista aplicabilidade, esse passado não pode ser bem curto, próximo no período de tempo que será analisado ou seja os resultados precisam mostrar qual tendência a empresa realmente está indo ao invés de ser uma amostra isolada da empresa, e nem tão distante ao ponto de não se ter uma real leitura da empresa. Breno aconselha-o a olhar os últimos cinco anos.
Com o retrospecto de alguns anos até o final de 2022 as ações das Americanas iam crescendo e existia uma expectativa de que elas iriam se valorizar bastante por conta do comércio eletrônico. Nos últimos tempos, a Lojas Americanas tem buscado diversas oportunidades de expansão, incluindo atuações no comércio eletrônico através da plataforma Americanas.com, a qual tem alcançado um notável êxito
Brenno mostra para Victor que a queda no preço de uma ação não significa prejuízo imediato. Mostrando que mesmo em apenas um dia uma ação pode subir e descer muito no mercado, e essa relação se deve a vários fatores, dentre eles a especulação dos investidores.
Ao ouvir isso Victor fica impressionado pois achava que a queda das ações significava prejuízo imediato e que deveria abandonar esse investimento.
Breno explica que às vezes, quando o preço das ações cai, as pessoas podem ficar preocupadas achando que estão tendo prejuízo imediato. No entanto, é importante entender que essa queda no preço das ações representa, na verdade, uma perda no valor de mercado das suas ações, mas isso não se traduz em prejuízo real, a menos que você venda as ações a um preço mais baixo do que o preço pelo qual as comprou.
Imagine, por exemplo, que você comprou ações de uma empresa por um determinado valor. Se o preço dessas ações cair, o valor do seu investimento também diminui, mas isso não é uma perda real até que você tome a decisão de vender ações a um preço mais baixo. Se você mantiver as ações durante um período de tempo mais longo, o mercado pode se recuperar e o preço das ações pode aumentar novamente, potencialmente compensando a queda inicial.
Isso é particularmente relevante quando se adota uma estratégia de investimento a longo prazo. Se você investe com um horizonte de tempo mais amplo, como muitos investidores bem-sucedidos fazem, as flutuações de curto prazo no mercado de ações são normais e esperadas. Historicamente, o mercado de ações tende a se valorizar no longo prazo, apesar das quedas temporárias.
Além disso, para alguns investidores, uma queda no preço das ações pode ser vista como uma oportunidade de compra. Se você acredita que a empresa subjacente continua sólida e que o preço da ação caiu devido a fatores temporários, comprar mais ações a um preço mais baixo pode ser uma estratégia para aumentar seu potencial de lucro no futuro.
Assim Breno apresenta as demonstração de resultado das Americanas.
Quem avisa, amigo é: vendo os números
Ao saber que seu amigo Victor estava pensando em investir nas Lojas Americanas, Ronan, um entusiasmado funcionário das Lojas Americanas, estava ansioso para compartilhar uma perspectiva especial com ele. Os dois se encontraram em um café aconchegante, e Ronan não conseguia esconder a animação ao iniciar a conversa.
"Victor, você não pode imaginar as oportunidades que estão surgindo nas Lojas Americanas. Como funcionário aqui, tenho acompanhado de perto o crescimento da empresa e acredite em mim, é uma grande chance de investimento", disse Ronan, olhando com empolgação para o amigo.
Intrigado, Victor perguntou: "Sério? Conte-me mais sobre isso, Ronan."
Então, Ronan começou a explicar como a empresa estava prosperando nos últimos anos. Ele mencionou que as Lojas Americanas possuíam uma presença consolidada no mercado brasileiro, com uma rede de lojas bem estabelecida e uma base fiel de clientes. Ele também destacou que a empresa estava constantemente inovando e investindo pesadamente em sua presença online, adaptando-se ao cenário digital em constante evolução.
Além disso, Ronan compartilhou sua visão sobre o mercado varejista no Brasil e como a empresa estava se destacando diante dos concorrentes. "As Lojas Americanas têm um histórico sólido de crescimento e têm alcançado resultados consistentes mesmo em períodos econômicos desafiadores", explicou Ronan.
Victor ainda estava um pouco cético e mencionou que investir em ações sempre envolvia riscos. No entanto, Ronan sorriu e respondeu: "É verdade, toda forma de investimento traz algum risco, mas acredito que as Lojas Americanas estão bem posicionadas para enfrentá-los. A empresa tem uma gestão eficiente, uma marca forte e uma estratégia de expansão bem-sucedida."
E para respaldar suas afirmações, Ronan apresentou alguns dados concretos sobre o desempenho financeiro da empresa nos últimos anos. Ele explicou por meio de uma análise vertical e horizontal suas demonstrações contábeis como o lucro líquido e a receita estavam crescendo de forma significativa, superando as expectativas dos analistas.
Na análise vertical do Balanço Patrimonial, é viável observar a proporção que cada elemento do Balanço Patrimonial representa em relação ao total do Ativo e Passivo. Enquanto na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), é possível verificar a relevância de cada componente em relação à receita líquida de vendas.
Em 2018, a empresa registrou um crescimento bastante modesto em seu ativo, com o Ativo Total aumentando apenas 2,59% em comparação ao ano anterior. No entanto, em 2019, houve um crescimento significativo de 17,77% no Ativo Total em relação a 2018.
Após uma queda de 0,84% em 2018, o Ativo Circulante (AC) apresentou um crescimento notável em 2019, registrando um aumento de 8,31%. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelas contas de tributos a recuperar, que tiveram um aumento de 37,16%, e pelas aplicações financeiras, que cresceram em 33,19% no mesmo período.
Em contrapartida, o Ativo Não Circulante (ANC) registrou um crescimento de 33,08% em 2019, em comparação com o ano anterior (2018). No ano de 2018, esse componente havia apresentado um crescimento mais modesto, com um aumento de apenas 8,65% em relação a 2017.
Em relação ao Passivo Circulante (PC), houve uma variação significativa de 26,49% em 2019, comparado a 2018, após uma queda de 13,55% em 2018 em relação a 2017. Essa redução em 2018 foi principalmente atribuída à diminuição considerável dos empréstimos e financiamentos da empresa, que apresentaram uma queda de 46,09%.
Por outro lado, em 2019, o crescimento do Passivo Circulante foi impulsionado principalmente pelas "Outras Obrigações e Provisões", que contribuíram para o aumento dessa conta no balanço.
Quanto ao Passivo Não Circulante (PNC), houve um crescimento de 12,60% em 2019 e de 15,63% em 2018. Enquanto isso, o Patrimônio Líquido (PL) da empresa tem mostrado crescimento contínuo ao longo dos anos, sendo que em 2019 esse crescimento foi ainda maior do que no ano anterior.
Na análise vertical, pode-se constatar que no ano de 2019, do Ativo Total, 56,84% é representado pelo Ativo Circulante, enquanto o Não Circulante corresponde a 43,16%. Isso indica uma inclinação em direção a investimentos de curto prazo. Dentre as contas do Ativo Circulante, as mais significativas são Caixa e Equivalente, que representa 33,27%, seguida por Aplicações Financeiras, com 22,82%.
Quanto ao Ativo Não Circulante, as contas mais expressivas são o Imobilizado, com 43,98% de representatividade, e o Ativo Realizável a Longo Prazo, com 28,36%.
Em relação às contas do Passivo Total, a que mais se destaca é a do Passivo Não Circulante, com um aumento de 46,08%. Isso sugere uma preferência por fontes de recursos de terceiros e de longo prazo.
No ano de 2018, o Ativo Circulante (AC) corresponde a 61,80% do Ativo Total, representando uma ligeira redução em comparação a 2017, quando esse percentual era um pouco maior, atingindo 63,93%. Em ambos os anos, pode-se observar uma preferência por investimentos de curto prazo.
Por outro lado, ao analisar as origens de recursos, fica evidente que a empresa tem uma inclinação por fontes de financiamento de terceiros de longo prazo.
Ao examinar a análise horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), observa-se que em 2017, a Receita Líquida da empresa alcançou o valor de R$ 16.345.589,00. No ano subsequente, essa receita apresentou um aumento de 8,22%, e em 2019, registrou um crescimento adicional de 7,16%.
Quanto às despesas gerais e administrativas, em 2017, totalizaram R$ 963.790. No ano seguinte, essa conta teve um aumento de 21,55%, e no último ano analisado, houve um crescimento mais expressivo de 50,20%. Esse aumento é explicado no relatório anual da empresa, onde se menciona a contratação de um grande número de funcionários para atender às necessidades das 230 novas lojas abertas somente no último ano, quando foi finalizado o projeto de expansão intitulado "85 anos em 5 - Somos Mais Brasil".
De acordo com a análise vertical da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), em 2017, os Custos dos Bens e/ou Serviços Vendidos representaram 67,20% da receita líquida. No ano seguinte, esse valor diminuiu ligeiramente para 65,75%, e em 2019, registrou uma leve redução para 63,63%.
Quanto às Despesas Gerais e Administrativas, em 2017, representaram 5,90% em relação à receita líquida. Em 2018, esse percentual aumentou para 6,62%, e no último ano analisado, atingiu 9,28% da receita líquida.
Em 2017, o lucro líquido foi registrado em R$ 81.234,00 , o que correspondeu a 0,50% das vendas de bens e/ou serviços naquele ano convertidos em lucro. Em 2018, essa proporção aumentou para 1,29%, e no ano seguinte, em 2019, chegou a 3,07%, alcançando um total de R$ 581.283,00 em lucro líquido.
Conforme Ronan compartilhava mais informações, a confiança de Victor começou a aumentar. O ponto de vista interno e apaixonado de Ronan, combinado com as evidências financeiras, começou a persuadi-lo de que investir nas ações das Lojas Americanas poderia ser uma decisão acertada.
Aquele encontro não só reforçou a amizade entre Ronan e Victor, mas também abriu as portas para um novo capítulo em suas vidas financeiras. Ronan estava emocionado em ajudar seu amigo a entender melhor o potencial do investimento, e Victor, por sua vez, sentiu-se grato por ter um especialista em seu círculo de amigos.
Assim, a perspectiva de alguém de dentro do negócio, combinada com a análise cuidadosa dos números e tendências, levou Victor a considerar seriamente a oportunidade de investir nas Lojas Americanas. Com novas informações em mãos, ele estava pronto para embarcar nessa emocionante jornada financeira ao lado de seu amigo Ronan.
Fui de Americanas: o Rombo Fiscal
No dia 11 de Janeiro de 2023, as Lojas Americanas comunicaram um erro em sua contabilidade no valor de R$ 20,0 bilhões, e disseram inclusive que esse problema ocorre há muitos anos. Ele logo ligou os pontos e viu que com as informações que lhe foram passadas que a empresa está endividada e não tem o dinheiro para pagar esse rombo. O mercado perdeu a confiança na empresa e suas ações se desvalorizaram.
O que ocorreu com a Lojas Americanas foi um erro na contabilização do dinheiro que ela pegava emprestado com os bancos em relação ao que era pago aos fornecedores, foi um problema na operação de risco. As despesas e o endividamento apareceram no balanço com o valor menor do que realmente eram e o patrimônio líquido assim como o lucro estava maior do que verdadeiramente eram. A empresa possivelmente precisará de uma ingestão de capital para não ir à falência. O Instituto Brasileiro de Cidadania decidiu processar as Americanas alegando que os investidores brasileiros foram induzidos a superestimar o valor dessas ações.
Victor ao olhar para a reação da mídia, investidores e público em geral em relação às Lojas Americanas, vê que ele terá que ser convicto em sua decisão de se investir ou não na empresa. Ele sabe que o risco é maior para investir na Americanas, em relação a outras lojas concorrentes como a Magazine Luiza, Via e Mercado Livre, porém a recompensa pode ser maior também.
Depois de analisar tantos números, Victor precisa tomar uma decisão, ele vai continuar com sua carteira de ações e arriscar sair no prejuízo, vai apostar na valorização e expandir sua carteira ou vai vender tudo enquanto é tempo.
Perguntas para o debate
- Qual papel os acionistas e a gestão deveriam ter desempenhado na supervisão e tomada de decisões estratégicas, considerando o controle pelo Grupo 3G Capital nas Lojas Americanas?
- Em que medida os investidores devem confiar em informações de fontes internas, dadas as claras motivações de otimismo de colaboradores como Ronan, e como isso afeta a transparência e confiança no mercado?
- Como a falta de transparência na comunicação, interna e externa, contribuiu para as consequências negativas da crise, e quais práticas eficazes poderiam ter sido adotadas para minimizar o impacto?
- Como o sistema de controle interno permitiu que as inconsistências contábeis atingissem valores significativos, e qual foi o papel da auditoria interna e externa na detecção dessas irregularidades?
- De que forma a crise impactou a reputação das Lojas Americanas e a confiança dos investidores, e que medidas éticas poderiam ter sido implementadas para evitar a perda de confiança e mitigar as consequências para as partes interessadas?
- Como o mercado financeiro reage a reviravoltas repentinas, como a revelação do erro contábil, e qual seria a abordagem mais prudente para investidores individuais em cenários de crise?
Galeria
Referências
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KRAUSPENHAR, J. H.; ROVER, S.(2020). A relevância da fraude contábilocorrida na Via Varejo S.A.: um estudo de eventos. Revista Brasileirade Administração Científica, v.11, n.3, p.242-257. Disponível em: http://doi.org/10.6008/CBPC2179-684X.2020.003.0017
Sobre os autores
- Rayron Françoise da Silva Vieira é estudante de Administração da Universidade de Brasília e membro da Equipe Casoteca ADM. Email: rayron1994@gmail.com
- Kalebe Lopes de Alencar é estudante de Administração da Universidade de Brasília e membro da Equipe Casoteca ADM. Email: kalebealencar@gmail.com
- Carlos Henrique Marques da Rocha é professor Titular na UnB e está credenciado ao Programa de Pós-graduação em Transportes (PPGT-UnB). PhD em Economia pela Universidade de Liverpool. Desenvolve pesquisa na área de Economia dos Transportes, Financiamento dos Transportes e Finanças Corporativas. Atua como revisor para periódicos nacionais e internacionais. E-mail: chrocha@unb.br
Editora: Nicole Alonso Santos de Sousa é aluna egressa do Departamento de Administração (ADM/FACE) da Universidade de Brasília (UnB). É co-coordenadora da Casoteca ADM. Tem pós-graduação em Finanças e Controladoria (MBA USP/ESALQ) e é bacharel em Administração (UnB). E-mail: nicolealonso2000@gmail.com
Este caso foi escrito a partir de informações secundárias e com base em outras referências citadas. Não é intenção dos autores avaliar ou julgar a empresa em questão. Este texto é destinado exclusivamente ao estudo e à discussão acadêmica, sendo vedada a sua utilização ou reprodução em qualquer outra forma. A violação aos direitos autorais sujeitará o infrator às penalidades da Lei Nº 9.610/1998.